O Brasil Terá uma Reserva em Bitcoin? Entre a Euforia Tecnológica e o Ceticismo Político

O Brasil Terá uma Reserva em Bitcoin? Entre a Euforia Tecnológica e o Ceticismo Político


Confesso que quando li a notícia, um sorriso cínico brotou no meu rosto. A Câmara dos Deputados do Brasil vai realizar uma audiência para discutir a criação de uma reserva nacional em Bitcoin. De um lado, a promessa de um futuro financeiro soberano e tecnológico. Do outro, a imagem mental da turma de Brasília tentando lidar com uma chave privada.

É o tipo de notícia que encapsula perfeitamente o Brasil: uma ideia potencialmente genial nas mãos das pessoas mais questionáveis para executá-la.

A Utopia: O Brasil na Vanguarda Cripto

Vamos ser justos. Na teoria, a ideia é brilhante. Em um mundo onde moedas fiduciárias, incluindo o dólar, são impressas até perderem o valor, ter uma reserva em um ativo escasso e descentralizado como o Bitcoin é uma jogada de mestre.

É uma proteção contra a inflação global, uma forma de se desvincular de crises geopolíticas e uma declaração de soberania. Países como El Salvador já deram o primeiro passo, e a ideia de que o Brasil, uma das maiores economias do mundo, pudesse seguir um caminho semelhante é, no mínimo, animadora.

Imagine o impacto: o Brasil sinalizando para o mundo que confia mais em um protocolo matemático do que na política monetária de outros países. Seria um salto para o século 21, uma demonstração de que não estamos apenas exportando soja, mas também abraçando o futuro da tecnologia financeira. A euforia é justificável.

A Realidade: Um Choque de Brasil

Mas aí a gente lembra que estamos no Brasil. E a euforia dá lugar a um profundo ceticismo.

A audiência contará com a presença do Banco Central, a mesma instituição que está empurrando o Drex, sua própria moeda digital centralizada (CBDC). Você realmente acredita que eles verão com bons olhos uma reserva em um ativo que compete diretamente com o seu projeto de controle? A chance de usarem a audiência para espalhar medo, incerteza e dúvida (FUD) é altíssima.

E mesmo que a ideia avance, ela precisa passar pelo Congresso. O mesmo Congresso que leva anos para aprovar questões básicas. O mesmo Congresso onde o lobby de bancos e instituições financeiras tradicionais corre solto. A proposta de investir 15 bilhões de dólares em Bitcoin enfrentaria uma resistência monumental, não por ser uma má ideia, mas por ameaçar o status quo que beneficia tantos.

O risco de o projeto ser desfigurado, adiado eternamente ou usado como mera manobra política para ganhar manchetes é gigantesco.

Conclusão: Teatro ou Futuro?

Então, o que eu acho? É um teatro. Um teatro interessante, que vale a pena assistir, mas ainda assim, um teatro.

A discussão é válida e absolutamente necessária. Ela planta uma semente na cabeça das pessoas e força as autoridades a se posicionarem sobre um tema que elas prefeririam ignorar. Só por isso, a audiência já é uma pequena vitória.

Mas não tenho esperanças de que uma reserva nacional em Bitcoin se torne realidade tão cedo. Não com a atual safra de tomadores de decisão. A ideia é boa demais, disruptiva demais e transparente demais para a política brasileira.

Talvez um dia. Mas, por enquanto, vou continuar fazendo minha própria reserva, bloco a bloco, sem depender da “ajuda” de Brasília.

E você, o que acha? É o início de uma revolução ou apenas mais um dia no circo brasileiro?